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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES EM GEOLOGIA DE CAMPO

Definição de Rocha, Afloramento e Exposição – Sabe-se que existem rochas (bedrock)* em qualquer lugar abaixo da capa (manto) de intemperismo. Quando a rocha surge acima da capa (manto) de intemperismo, essas porções são chamadas de afloramentos. Os afloramentos e também as seções na capa (manto) superficial não-consolidada da rocha podem ser referidos como exposições.

Geologia de campo** é a investigação das rochas, materiais rochosos e ambientes naturais nas suas relações uns com os outros. A geologia de campo busca descrever e explicar as feições superficiais e as estruturas abaixo da litosfera, assim como os ambientes e processos geológicos. A geomorfologia e a geologia estrutural são igualmente importantes na geologia de campo.

Observação e Inferência – A geologia de campo é fundamentalmente baseada em observação e inferência (dedução). Somente as feições superficiais podem ser observadas; todas podem ser inferidas. Precisamos estudar a superfície de um afloramento, de um vale ou de um grão de areia, mas com o objetivo de explicar a estrutura interna do afloramento, ou aquilo que está sob o vale, ou como o grão de areia foi formado, fazendo inferências pela interpretação de certos fatos visíveis. A habilidade de inferir e de inferir corretamente é o objetivo último do treinamento na geologia de campo, porque a proficiência como geólogo é medida pela habilidade de alguém em tirar conclusões seguras e razoáveis dos fenômenos observados.

Correlação – Nenhuma estrutura geológica e nenhuma forma de terreno, tais como montanhas, vales e outras, existe como fenômeno isolado. Toda feição geológica, de uma ou outra maneira, é dependente ou associada a outras feições geológicas, e sua dependência ou associação deve ser descoberta pelo geólogo de campo. É este o significado de correlação. A palavra significa a descrição ou a explicação de um fenômeno geológico em relação a outros. Eis um exemplo para ilustrar: Por definição, todos os afloramentos são porções expostas de rocha que está sob uma capa superficial de material não-consolidado. Consequentemente, quando o geólogo examina uma série de afloramentos, ele deve imaginar que eles não estão isolados, separados, mas que eles são partes visíveis de um corpo de rocha contínuo abaixo do solo e que as rochas ou estruturas que eles exibem estão mutuamente relacionadas de alguma maneira. Ele correlacionará esses afloramentos quando os estudar desse ponto de vista amplo e se esforçará para explicar essas relações mútuas.

Hipótese Múltipla de Trabalho – A interpretação geológica é facilitada pelo método denominado hipótese múltipla de trabalho. Suponha, por exemplo, que a superfície de uma rocha apresenta ranhuras paralelas. Para explicar a origem dessa feição, o geólogo poderia lembrar-se de todas as maneiras possíveis que poderiam ter produzido essas ranhuras. Essas são suas hipóteses de trabalho. Para determinar qual é a origem correta, ele deve examinar a superfície da rocha para os outros fenômenos que estão associados com as ranhuras, postular para cada hipótese um certo grupo de feições geológicas que estão mutuamente relacionadas.

O mesmo princípio pode ser aplicado onde é necessária ampla correlação. A distribuição de afloramentos em uma pequena área pode ser tal que sugere que uma determinada rocha ígnea entrou em contato com uma certa rocha sedimentar, mas a atual superfície de contato pode estar escondida sob a capa de intemperismo. A relação pode ser explicada assumindo-se que as duas rochas estão em contato intrusivo, de falha ou superfície de inconformidade. O geólogo deve ter em mente essas três hipóteses enquanto observa outras evidências para obter a interpretação verdadeira.

O Estudo de Exposições – Toda superfície geológica tem características que merecem uma descrição. Elas podem ser simplesmente superficiais ou podem ser seções transversais de estruturas ou formas que se estendem abaixo da superfície. No último caso, elas provavelmente pertencem à estrutura da rocha. Para distinguir entre feições superficiais e estruturais, quebra-se um fragmento da rocha ou, no caso de um depósito não-consolidado, raspa-se algum material da superfície. A superfície fresca exposta resolverá a questão.

Se as feições observadas são superficiais, com respeito à sua origem elas podem estar relacionadas com a superfície onde elas foram encontradas em uma ou outra dessas quatro maneiras: (1) Elas podem estar em processo de formação, embora talvez o agente que as forma não atue continuamente. (2) Elas podem ter sido provocadas por um agente de curta duração e podem não ter ainda sofrido alteração sob as novas condições. Isso geralmente é válido para rochas duras e de granulação fina classificadas como glaciais do Pleistoceno; mas superfícies lisas, estriadas são logo destruídas em rochas granulares grossas expostas, as quais são mais suscetíveis à desintegração. (3) As feições superficiais, quando na rocha, podem ter sido preservadas durante muito tempo sob depósitos não-consolidados e que foram removidos recentemente. A desintegração em rochas grossas pode ser evitada por tal cobertura. Por outro lado, um manto de solo pode às vezes promover a decomposição da rocha soterrada. (4) Uma superfície soterrada tal como a que acabamos de descrever pode ser preservada por um tempo mais longo por uma espessa cobertura de estrato consolidado. A erosão da formação sobreposta pode expor novamente a superfície antiga desde que esta última coincida com a nova superfície de erosão; mas tais circunstâncias são muito raras e a exposição da superfície antiga pode não ser completa.

Se as feições observadas são estruturais, estendendo-se dentro da rocha ou da capa da rocha, conforme o caso, elas devem ser examinadas tendo isto em consideração. Uma linha é então uma seção transversal de uma superfície e uma área (faixa ou trecho) é a seção transversal de um corpo que tem três dimensões. A inclinação da linha é frequentemente indicativa da forma da superfície que ela representa, e a forma da área é sugestiva da forma do corpo, mas existem muitas exceções. O geólogo deve sempre olhar sobre o afloramento ou depósito para ver se ele pode encontrar a superfície estrutural ou corpo exposto em duas faces do seu afloramento tão próximas quanto possível e em ângulos retos uma com a outra.

Feições Primárias e Secundárias – Às vezes é conveniente referir-se às feições em exposições como primárias ou secundárias, de acordo com sua origem sendo contemporânea ou subsequente à origem do material no qual elas são vistas. Exemplos de estruturas primárias são acamamento nas rochas sedimentares, ripple marks, estruturas de fluxo de lava etc. Entre as feições secundárias devem ser mencionadas manchas superficiais em afloramentos, estrias glaciais e fraturas nas rochas.

Mergulho, Direção e Atitude – Quando alguém deseja estabelecer a posição de uma superfície plana, são necessárias duas medições. Uma é conhecida como mergulho, que é, o maior ângulo entre a inclinação da superfície, e a outra é conhecida como direção (strike), que é a direção da linha de interseção da superfície com o plano horizontal. O mergulho é o ângulo medido no plano vertical e deve sempre ser medido para baixo do plano horizontal. O sentido do mergulho é perpendicular à direção (strike). Juntos, direção e mergulho, determinam a posição ou atitude de uma superfície em relação à horizontalidade e às direções da bússola. Obviamente, a atitude de uma camada relativamente fina de espessura uniforme será a da superfície superior ou inferior da camada.

Discriminação entre Depósitos Transportados e Residuais – Depósitos transportados e residuais podem ser geralmente distinguidos no campo por suas relações com a rocha subjacente. De modo geral, materiais transportados são muito distintos da rocha abaixo deles, enquanto que os depósitos residuais geralmente gradam para baixo até à rocha subjacente ou pelo menos mostram alguma semelhança química com esta última.

NOTAS DO TRADUTOR: 

O texto acima foi extraído e traduzido livremente do livro de LAHEE, Frederic Henry. Field Geology. New York : McGraw-Hill, 1916, por Márcio Santos.

* Em inglês, o termo bedrock refere-se ao material constituinte da litosfera, isto é, um agregado sólido constituído por um ou mais minerais ou mineralóides, formado por processos naturais.

** Um conceito mais atualizado é fornecido por M.L. Bevier no livro Introduction to Field Geology: A geologia de campo envolve a integração de dados espaciais, descritivos, estruturais, petrológicos e temporais para compreender a constituição geológica e a história de uma área."

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