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terça-feira, 20 de julho de 2021

NOVO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS CONTINENTES

De acordo com um estudo internacional liderado por geólogos da Monash University, uma mudança fundamental na natureza há 3,75 bilhões de anos facilitou a formação atual e estável da crosta dos continentes da Terra. A pesquisa foi publicada na Nature Communications.

A Terra se formou há 4,5 bilhões de anos, no entanto, as partes mais antigas da crosta que formam os continentes do planeta datam de 4 a 3,6 bilhões de anos, o que sugere que elas, apesar de antigas, demoraram um pouco mais para conseguir se formar. E foi para responder essa questão que os pesquisadores instituíram o estudo.Estudo indica revela novos processos na formação dos continentes da Terra. Imagem: DBHAVSAR/Shutterstock

Estudo indica revela novos processos na formação dos continentes da Terra.
Imagem: DBHAVSAR/Shutterstock

Segundo o tabloide científico PHYS.ORG, para entender o processo, a equipe analisou grãos microscópicos de 4,2 a 3,2 bilhões de anos do mineral zircão do Cráton Yilgarn – craton que constitui a maior parte da massa terrestre da Austrália Ocidental.

A crosta pode se formar por meio de dois processos diferentes: a fusão da crosta pré-existente ou a fusão recente do manto subjacente da Terra. A composição isotópica do háfnio dos grãos de zircão pode acompanhar os dois processos.

“Os novos dados que coletamos mostram uma mudança dramática na composição isotópica do háfnio dos zircões do Craton de Yilgarn 3,75 bilhões de anos atrás”, disse o principal autor do estudo, Dr. Jack Mulder, pesquisador do grupo Escola da Terra, Atmosfera e Meio Ambiente da Monash University.“Os zircões mais antigos se formaram em magmas que foram derivados apenas por meio do derretimento da crosta mais velha. Há 3,75 bilhões, magmas contendo zircão começaram a ser originados, pelo menos em parte, do manto da Terra”, explicou o cientista, sugerindo que a formação do continente acabou acontecendo por uma coincidência a partir do momento que os zircões começaram a ser originados apenas de um processo, usando o manto subjacente da Terra.                                                                                                                                                                                                                                                      “É importante ressaltar que a mudança de isótopo registrada nas cápsulas do tempo do zircão coincide precisamente com a época em que se formou a crosta mais antiga preservada no atual Cráton Yilgarn”, acrescentou.                          Para a equipe, a coincidência é atribuída a uma relação causal simples: quando o magma é extraído do manto da Terra, o resíduo profundo que sustenta a crosta é seco, rígido e, mais importante, flutuante.

“Essas quilhas flutuantes de manto residual empobrecido pelo derretimento podem ter servido como ‘jangadas salva-vidas’ que protegeram os novos e mais antigos continentes de mergulhar de volta nas profundezas da Terra”, disse Mulder.

“Esses resultados destacam uma mudança fundamental na natureza da formação da crosta 3,75 bilhões de anos atrás, que facilitou a formação da crosta continental única e estável da Terra”, finalizou o pesquisador.

Em suma, de acordo com o estudo, os continentes que cresceram em torno desses antigos núcleos de crostas influenciaram o clima, a atmosfera e a química dos oceanos, possibilitando o começo da vida.

Publicado em Olhar Digital - https://olhardigital.com.br/2021/06/11/ciencia-e-espaco/estudo-revela-novo-processo-na-formacao-dos-continentes-da-terra/


segunda-feira, 19 de julho de 2021

NOVOS FÓSSEIS AJUDAM A ESCREVER A HISTÓRIA DA VIDA NA TERRA

 

  • REDAÇÃO GALILEU
 ATUALIZADO EM 
Chuandianella ovata, um crustáceo extinto semelhante ao camarão (Foto: Xianfeng Yang, Yunnan Key Laboratory for Palaeobiology, Yunnan University)

Chuandianella ovata, um crustáceo extinto semelhante ao camarão (Foto: Xianfeng Yang, Yunnan Key Laboratory for Palaeobiology, Yunnan University)

Localizado próximo à cidade chinesa de Kunming, o “berçário” de cerca de 518 milhões de anos abriga organismos ancestrais de todos esses seres — dos terrestres aos marinhos. Denominado Haiyan Lagerstätte, o depósito é, até o momento, o mais antigo e diverso já encontrado no mundo.

Das 2.846 espécimes mapeadas pelos cientistas no local, mais de 50% estão nos estágios de desenvolvimento larval e juvenil. Os organismos estão tão preservados que, segundo a equipe, revelam partes do corpo desses ancestrais nunca antes vistas.

"É incrível ver todos esses juvenis em um depósito fóssil", comemora, em comunicado, Julien Kimmig, gerente de coleções do Museu e Galeria de Arte de Ciências da Terra e Minerais, da Universidade Estadual da Pensilvânia. "Fósseis juvenis são algo que dificilmente vemos, especialmente de invertebrados de corpo mole”, observa o paleontólogo.

Os pesquisadores já conseguiram identificar 118 espécies no lagerstätte — como, na paleontologia, são chamados os depósitos sedimentares que apresentam fósseis em estado excepcionalmente preservado. Destas, 17 são inéditas. Além de ancestrais de insetos e crustáceos modernos, vermes, trilobitas (atrópodes do Paleozóico), algas, esponjas e vertebrados, também foram encontrados ovos e uma abundância de fósseis juvenis raros com apêndices ainda intactos e tecidos moles internos visíveis.

Abrigo contra predadores

Todos os organismos estão concentrados nas camadas mais inferiores do depósito, com porções subsequentes contendo diversas espécies, mas não na extensão da faixa mais baixa. Para a equipe, esses intervalos podem representar períodos de expansão e contração da comunidade marinha: enquanto algumas espécies teriam vindo para a área em busca de proteção contra fortes correntes oceânicas — uma vez que, na época, o depósito estava localizado em águas mais profundas, em direção ao Golfo de Kunming —, uma mudança nos níveis de oxigênio ou eventos de tempestade podem ter causado um fluxo de sedimentos que enterrou muitas delas, provocando extinções.

Acima, um dos organismos preservados no depósito fóssil chinês: o Maotianshania cylindrica, um verme priapulídeo (Foto: Xianfeng Yang, Yunnan Key Laboratory for Palaeobiology, Yunnan University)

Acima, um dos organismos preservados no depósito fóssil chinês: o Maotianshania cylindrica, um verme priapulídeo (Foto: Xianfeng Yang, Yunnan Key Laboratory for Palaeobiology, Yunnan University)

Aos animais juvenis, o depósito também pode ter servido de abrigo contra predadores — o que faria dele um paleonursery (antigo berçário de animais juvenis extintos). "Será que esses vermeságuas-vivas e insetos desenvolveram algo tão sofisticado como um paleonursery para criar seus filhotes? Seja qual for o caso, é fascinante ser capaz de comparar esse comportamento ao dos animais modernos", avalia, em nota, Sara Kimmig, diretora do Laboratório de Isótopos e Metais no Meio Ambiente da Universidade Estadual da Pensilvânia.

A partir de análises geoquímicas do depósito, os cientistas também planejam recriar o meio ambiente e o clima que marcou o período em que a estutura foi sedimentada. Os fósseis permitirão ao grupo estudar como os animais se comportavam no período geológico cambriano, um pouco mais quente do que hoje. 

Com o material, também será possível analisar como as diferentes partes do corpo desses organismos mudaram ao longo do tempo e de que maneira esses animais lançaram as bases para a vida na terra e no mar de seus sucessores. "Veremos se a forma como se desenvolvem hoje é semelhante a como se desenvolveram há 500 milhões de anos, ou se algo mudou ao longo do tempo", antecipa Julien Kiming.