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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

ZONAS DE CISALHAMENTO DÚCTIL

As falhas e as zonas de cisalhamento são estruturas próximas entre si. Tanto umas como outras são estruturas de deformação localizada, envolvem deslocamento paralelo às paredes e tendem a crescer em espessura e comprimento em função do acúmulo de deslocamento.

Para Fossen (2012), uma zona de cisalhamento é uma zona tabular onde a deformação é notavelmente maior que a deformação nas rochas ao seu redor. Essa definição não faz restrição aos mecanismos de deformação em microescala. Assim, uma zona de cisalhamento pode conter alguns elementos (grãos minerais, lentes, camadas) que se deformam de modo plástico e outros que se deformam de modo rúptil simultaneamente, ou todo o conjunto pode deformar-se de modo plástico ou rúptil. Os mecanismos de deformação dependem da temperatura, pressão reações metamórficas, cimentação, taxa de deformação e quantidade de fluidos disponíveis, além da distribuição dos minerais e de suas propriedades ao longo da zona.

No regime predominantemente rúptil da crosta superior, os mecanismos de deformação rúptil são dominantes e, portanto, a deformação é caracterizada por fluxo cataclástico, envolvendo microfraturamento, deslizamento friccional em limites de grãos e rotação rígida de fragmentos de grãos. Em areia e em arenito pouco cimentado em níveis crustais rasos, as zonas de cisalhamento podem desenvolver-se por fluxo granular, que envolve reorganização friccional de grãos sem que estes se fraturem. Enquanto essa deformação ocorrer em uma zona de espessura finita, é possível classificar tal zona como uma zona de cisalhamento, ou como banda de deformação por cisalhamento, se ocorrer em amostra de mão. As zonas de cisalhamento formadas predominantemente por mecanismos de deformação rúptil são denominadas zonas de cisalhamento rúptil ou zonas de cisalhamento friccional. Falhas mais bem desenvolvidas, com núcleos e zonas de dano, podem ser consideradas como membros extremos do espectro de variação das zonas de cisalhamento. Entretanto, a maioria dos geólogos prefere o termo falha ou núcleo de falha para se referir a descontinuidades rúpteis que cortam de modo abrupto os maciços rochosos.

Em níveis crustais mais profundos, no regime plástico, os mecanismos de deformação plástica passam a ter maior efeito. Se houver predomínio de mecanismos de deformação plástica, formam-se zonas de cisalhamento dúctil ou zonas de cisalhamento plástico. Na zona de transição rúptil-dúctil, que pode abranger um amplo intervalo de profundidade, formam-se as zonas de cisalhamento rúptil-dúctil. A maioria das zonas de cisalhamento dúctil contém elementos rúpteis, como porfiroclastos fraturados de feldspato ou granada, a menos que a temperatura seja muito alta.



A figura acima é um modelo simplificado, segundo Fossen (2012), da conexão entre as falhas, que normalmente se formam na crosta superior, e as zonas de cisalhamento dúctil. A transição é gradual e denominada transição rúptil-plástica. Sua profundidade depende do gradiente térmico e da composição mineralógica da crosta. Em rochas graníticas, essa profundidade normalmente é de 10 a 15 km.

Fossen (2012) questiona o uso do termo zona de cisalhamento dúctil, considerando-o ambíguo, porque ductilidade e plasticidade não são sinônimos. Uma zona de cisalhamento dúctil poderia ser formada por mecanismos de deformação rúptil em microescala; sendo assim, este autor prefere o termo zona de cisalhamento plástico, para as deformações em regime plástico.

Arthaud (1998) usa o termo zonas de cisalhamento dúctil (ZCD), considerando-as como equivalentes profundos das falhas, das quais, em muitos casos, elas constituiriam o prolongamento natural. A principal diferença é que, nas zonas de cisalhamento dúctil, o deslocamento relativo dos blocos não acontece ao longo de um plano de ruptura, mas de uma faixa, mais ou menos estreita, deformada plasticamente.

Para Arthaud (1998), uma ZCD é uma faixa estreita de rochas, deformada de maneira plástica, onde o mecanismo principal da deformação é o cisalhamento simples (rotacional, não coaxial e com esforços paralelos à área do corpo), em regime de deformação plana (estiramento em uma das direções, encurtamento em outra direção, terceira direção sem deformação), separando dois compartimentos menos deformados e que apresentam um deslocamento relativo.

A figura abaixo mostra uma zona de cisalhamento ideal deformando uma malha com dois planos marcadores e marcadores circulas. Note que os quadrados da malha e os marcadores planos mudam de atitude e de espessura ao longa da zona. A deformação é máxima na parte central da zona de cisalhamento (FOSSEN, 2012).



As ZCD podem ser observadas em qualquer escala, do milímetro à escala continental, com rejeitos extremamente variáveis, podendo atingir centenas de quilômetros. Existem zonas de cisalhamento em regime extensional, compressional e transcorrente.

As terminologias adotadas são as mesmas das falhas (por exemplo: zona de cisalhamento dúctil transcorrente dextral normal, zona de cisalhamento dúctil com separação normal etc.).  A nomenclatura dos rejeitos é também idêntica à das falhas.

As ZCD variam de milímetros a centenas de quilômetros


Embora a deformação na zona de cisalhamento possa ser homogênea, não é geralmente o caso e é possível observar uma gradação da deformação do domínio menos deformado até o domínio mais deformado.

Variação da deformação nas ZCD


A distribuição da deformação é geralmente heterogênea: alternam-se faixas com intensidades de deformação extremamente variáveis, às vezes de maneira brusca.





Resumo das principais características das ZCD

        São zonas tabulares de deformação da crosta.
        Ocorrem em todas as escalas, desde a milimétrica até aquela cortando toda a crosta e envolvendo centenas de quilômetros de desligamento.
        Como as falhas, tendem a envolver grande quantidade de movimentos paralelos ao plano de cisalhamento (cisalhamento simples), mas também podem ser influenciadas por outros tipos de deformação.
        As ZCD de acentuada deformação plástica desenvolvem feição milonítica.
        Também como as falhas, podem ser reversas, normais, transcorrentes ou mostrarem desligamentos oblíquos.
        Tendem a exibir mergulhos menores que as falhas (exceto as transcorrentes).

Feições características das ZCD

foliação é a feição fundamental das zonas de cisalhamento dúctil, conseqüência principalmente da plasticidade cristalina e da rotação de minerais. A foliação na ZCD não difere, basicamente, da xistosidade desenvolvida na maior parte das rochas metamórficas deformadas.

A intensidade da deformação, às vezes muito elevada nestas zonas, pode provocar uma recristalização dinâmica importante, levando a uma drástica redução do tamanho dos grãos. Esta xistosidade é, às vezes, chamada de foliação milonítica.

Quanto mais intensa a deformação, mais o plano de foliação (S) se aproxima do plano de cisalhamento C (quando a deformação é pouco intensa, a foliação, pouco visível, forma um ângulo de cerca de 35/40º com C).



As lineações de estiramento são uma das feições mais características das zonas de cisalhamento dúctil. A deformação é geralmente plana, gerando planos lineares (tectonitos L/S). O estiramento pode ser extremamente importante, registrado na forma de lineações minerais e de alongamento.



O plano C, ou plano de cisalhamento, geralmente não é materializado, a não ser nos domínios de maior intensidade da deformação onde a foliação passa a ser paralela à ZCD, conforme se observa na figura abaixo.



Em certos casos, como na foto abaixo, quando a deformação é intensa e nos domínios onde o ângulo entre S e C está em torno de 10 a 15º, podem aparecer pequenos planos de cisalhamento paralelos ao plano C.



Nas ZCD, as dobras são frequentes, mas não necessárias e nem rítmicas. De maneira geral, apresentam tendência em ter seus eixos paralelos ao eixo X do elipsóide de deformação, fato evidenciado pelo paralelismo frequente dos eixos de dobras e da lineação de estiramento.



Em outros casos, apresentam eixos curvos ou mesmo uma forma cônica (dobras em bainha).



A progressão da deformação faz com que as dobras, que representam uma heterogeneidade dificultando a deformação global da ZCD, tendem a serem recortadas pela própria evolução da xistosidade, conforme se pode observar nas imagens seguintes, sobrando apenas charneiras intrafoliais ou sendo totalmente eliminadas.

Nas ZCD que apresentam deformação extremamente elevada, as dobras são raras ou mesmo ausentes.

Esquema das principais feições nas ZCD



Rochas Metamórficas nas ZCD

Nas zonas de falha, o trituramento de fragmentos da rocha encaixante pode levar, por processos rúpteis, a uma forte redução generalizada de granulação e a formação de rochas características, as rochas cataclásticas.

No caso da zona de cisalhamento, a redução da granulação é decorrente principalmente de processos dúcteis, em particular a recristalização dinâmica (concomitante com o processo de deformação), e se processa não às custas de fragmentos de rochas, mas sim de minerais. Esses processos levam à formação de rochas mais ou menos finas onde alguns restos arredondados de minerais (às vezes chamados de clastos, apesar do processo deformacional diferente) flutuam numa matriz fina foliada.

Metamorfismo dinâmico (cataclástico) - este tipo de metamorfismo é caracterizado por pressão elevada e temperaturas que podem variar de baixas a altas. Está associado a zonas de falhas ou cisalhamentos, onde blocos crustais são pressionados uns contra os outros. A área de abrangência deste tipo de metamorfismo é função direta da intensidade do falhamento, podendo afetar rochas de composição e origem distintas. Tipos de rochas formadas nas ZCD: milonitos

Milonito é uma rocha metamórfica bandeada ou laminada na qual a textura original da rocha-mãe é destruída por intenso cisalhamento dentro de uma zona falha. O termo milonito, de acordo com Fossen (2012), é aplicado atualmente a rochas fortemente deformadas, que passaram por redução de sua granulação em decorrência de deformação plástica, ao passo que o termo cataclasito é usado quando o fluxo cataclástico é dominante. A catáclase pode ocorrer durante a milonitização, se o feldspato for fragmentado em uma matriz onde o quartzo foi plasticamente deformado, por exemplo.

Foliação milonítica definida pela forte recristalização de quartzo e feldspato de granitos deformados (a) da Faixa Sergipana e (b) do oeste Australiano.
Os milonitos são separados em três subgrupos, dependendo de quanto da matriz original permanecer intacta (não recristalizada):
- protomilonito: <50% matriz (cristais neoformados);
- milonito: 50% a 90% matriz;
- ultramilonito: >90% matriz (cristais neoformados).



Rochas nas ZCD, em profundidade






Este texto foi extraído de:

ARTHAUD, M. Elementos de geologia estrutural. Fortaleza, 1998.

CARNEIRO, Celso dal Ré et al. Tipos de folilação. DGAE/IG/UNICAMP. Obtido em: http://www.ige.unicamp.br/site/aulas/87/FOLIACOES.pdf.

FOSSEN, H. Geologia Estrutural; trad. Fábio R. D. de Andrade. São Paulo : Oficina de Textos, 2012.

Geologia Estrutural. Deformação: conceitos básicos. Obtido em: http://www3.ufpa.br/larhima/Material_Didatico/Graduacao/Geologia_Estrutural/Capitulo_2_2007.pdf.


TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.) Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2000.

sábado, 22 de novembro de 2014

LINEAÇÕES EM ROCHA

Lineação é uma porção linear de um plano de foliação que ocorre naturalmente nas rochas, como resultado da deformação; possui penetratividade e repetitividade, em escala de amostra de mão.

Não são lineações as estrias de falhas que, apesar de serem objetos lineares, não são penetrativas. O eixo de dobra não é uma lineação, se ocorre isoladamente – uma dobra com o seu eixo.

A lineação é definida pelo sub-paralelismo ou paralelismo de elementos geológicos, tais como minerais, agregados de minerais, seixos etc., ou pela intersecção de feições planares.
As lineações são subdivididas nos seguintes grupos:

        Lineações Primárias (L0)
        Lineações Secundárias (La)
        Lineações Secundárias (Lb).
Havendo duas superfícies planares que se intersectam haverá exposição de lineações.
As lineações são definidas por: interseção entre foliações; pela orientação preferencial de grãos prismáticos ou acicularesgrãos ou outros objetos estirados ou qualquer combinação entre esses elementos.

Tipos de lineação primária (L0)
Lineação de particionamento: arranjo linear de grãos de silte e areia , devido ao vento ou à corrente de água.
Lava: lava em forma de corda, convexa na direção do fluxo.

Fluxo de lava em forma de corda. Fonte: SALAMUNI, E. Estruturas planares e lineares. UFPR.

Tipos de lineações secundárias (La)

Objetos alongados: é um dos tipos mais comuns de lineação, e é formado pelo alinhamento paralelo do eixo maior de objetos geológicos deformados.
Lineação de orientação mineral: a orientação mineralógica, sem estiramento, gera alinhamentos mineralógicos e caracteriza uma lineação mineral.
Lineação de estiramento mineral: minerais deformados e alongados paralelamente a uma direção geram alinhamentos, indicando lineação.




Objetos geológicos estirados podem ser representados por seixos ou então boudins isolados como os da foto abaixo (em áreas com fósseis, os mesmos podem estar também estirados).



Tipos de boudins


Boudins tipo dominó


Apesar de os boudins geralmente não serem penetrativos, estas feições lineares são englobadas no quadro das lineações. São objetos alongados, resultantes da extensão de uma camada que sofre um adelgaçamento progressivo e localizado (estrangulamento), que pode evoluir para uma ruptura.

Estruturas em lápis ou charuto possuem escalas pequenas, como um lápis ou charuto e formam clivagem de intersecção e intensa fissilidade. Em estratos dobrados a estrutura em lápis estão orientadas sub-paralelamente aos eixos das dobras (figura abaixo).

Estruturas em lápis
Os rods são estruturas em lápis de composição geralmente quartzo-feldspática, comuns em rochas metamórficas (figura abaixo)

Rods


lineação de estiramento engloba todas as lineações resultado do estiramento, numa direção privilegiada, de objetos pré-tectônicos (como, p.e., seixos de conglomerados, fósseis etc. Figuras abaixo).



Lineações de estiramento. Fonte: ALMEIDA. Foliações e lineações. UERJ

Lineações de estiramento. Fonte: ALMEIDA. Foliações e lineações. UERJ.


As charneiras das dobras intrafoliais também formam lineações (Figura abaixo). As dobras intrafoliais resultam da transposição intensa das rochas. Estas charneiras constituem objetos subcilíndricos, do tipo bengala, geralmente paralelos, imprimindo às rochas uma organização linear.

Charneiras de dobras intrafoliais. Fonte: ARTHAUD, 1998.


Lineações de interseção (Lb)
Correspondem à interseção de duas famílias penetrativas de planos como, p.e., a estratificação e uma clivagem, ou uma xistosidade e uma clivagem.





Lineações de interseção


Nas lineações de crenulação os elementos lineares que marcam a lineação são os eixos de microdobras. A crenulação pode estar associada tanto a um elemento planar – a clivagem de crenulação -, como a um elemento linear – a lineação de crenulação.

Lineações de crenulação




Este material foi extraído e modificado a partir de:

ALMEIDA, J. Foliações e lineações. UERJ.
ARTHAUD. M. Elementos de Geologia Estrutural. Fortaleza, 1998.

SALAMUNI, E. Estruturas planares e lineares. UFPR.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

FOLIAÇÕES EM ROCHA

Grande parte das estruturas em rochas é definida pela orientação preferencial de minerais ou elementos da trama. Os elementos da trama são aquelas feições que se repetem sistematicamente na rocha. Isto inclui o arranjo espacial e geométrico de todos os constituintes da rocha, congregando feições texturais, estruturais e orientações cristalográficas preferenciais.
Em Geologia Estrutural, trama é um termo usado para descrever componentes, penetrativos distribuídos em maciços rochosos. Uma trama é formada por minerais e agregados de minerais segundo uma orientação preferencial penetrativa na rocha com espaçamento em escala microscópica a centimétrica.

As estruturas em rocha podem ser primárias ou secundárias. Estruturas primárias foliares não são muito comuns. Podem ocorrer em: rochas ígneas acamadadas pelo fluxo de lava, clivagem plano axial em dobras de escorregamento, em rochas sedimentares e como foliação diagenética em folhelhos.

As estruturas secundárias planares, representadas pelas foliações (xistosidades e clivagens), e lineares, representadas pelas lineações minerais, de interseção e de eixos de dobras, ocorrem em rochas que foram submetidas a metamorfismo acima de graus incipientes. São associadas a falhas (incluindo-se zonas de cisalhamento) e dobras.

Grande parte das estruturas em rochas é definida pela orientação preferencial de minerais ou elementos da tramaÉ comum, em litologias deformadas em condições dúcteis, o desenvolvimento de uma ou mais famílias de planos de orientação das rochas. Esses planos, de origem tectônica (secundários), podem ou não ser paralelos à estratificação original da rocha que, em certos casos, é totalmente apagada quando do desenvolvimento das novas feições (transposição). Esses planos recebem, de maneira genérica, a denominação de foliações e são representados pela letra S.

A palavra foliação é, portanto, um termo genérico para descrever feições planares que se reproduzem de forma penetrativa e repetitiva no meio rochoso, em escala de amostra de mão. Podemos classificar como foliação um acamamento rítmico de uma rocha metamórfica, o bandamento composicional de rochas ígneas, ou outras estruturas planares de rochas metamórficas. Uma falha isolada cortando um nível composicionalmente diferente da rocha não é considerada um elemento da trama, porque não possui repetitividade em escala de amostra de mão. Juntas são normalmente excluídas dessa classificação por não serem suficientemente penetrativas.

Portanto, o termo foliação se aplica a feições planares das rochas metamórficas e corresponde a vários tipos de estruturas, tais como:

Clivagem ardosiana.

a) Clivagem (de rocha): é a separação da rocha em planos paralelos. O termo clivagem é alusivo as foliações secundárias presentes em rochas finas, nos quais não há cristalização orientada de minerais. As clivagens aparecem em rochas metamórficas ou não e são características do nível estrutural médio.
clivagem ardosiana é uma estrutura típica das ardósias e filitos caracterizados predominantemente pela orientação paralela de minerais placosos, sobretudo sericitas e minerais de argila, e agregados minerais tabulares ou lenticulares. Macroscopicamente, é caracterizada pela quebra das rochas em planos paralelos e regulares, conforme ilustração ao lado.


Clivagem de crenulação. Observe o paralelismo com o plano axial (traçado em vermelho)
clivagem de crenulação é uma segunda foliação gerada sobre rocha metamórfica, normalmente rica em filossilicatos (micas), em decorrência de dobramento com pequeno comprimento de onda e amplitude (microdobras). Essa segunda foliação é paralela ao plano axial dessas dobras e quanto mais apertadas forem essas microdobras, melhor será o desenvolvimento da clivagem. Em rochas que contém clivagens de crenulação a foliação preexistente é normalmente afetada por microdobras.
Na imagem ao lado, observa-se uma dobra em rocha xistosa que levou desenvolvimento de uma crenulação (linha vermelha), observável como feição planar (clivagem) e também como feição linear (eixos da crenulação).

A clivagem de crenulação é descontínua e afeta essencialmente rochas finamente acamadadas, geralmente xistos diversos ou quartzitos laminados. A geometria das microdobras de crenulação é extremamente variada, sendo comuns kinks chevrons. Essas microdobras podem ou não ser simétricas.

As clivagens são feições sistematicamente associadas à dobramentos. Apresentam, geralmente, relações geométricas simples com as dobras singenéticas, sendo os planos de clivagem de modo geral paralelos aos planos axiais.
Quando não paralelos aos planos axiais, as clivagens desenham, na maioria dos casos, um leque convergente para a parte central das dobras, conforme a figura acima.

Se o espaçamento entre os elementos planos for >1 mm e os planos forem perceptíveis em amostra de mão, a clivagem é denominada clivagem espaçada. A estrutura será uma clivagem contínua se o espaçamento dos elementos planos for ≤ 1 mm.
As rochas com foliação contínua se partem em fatias ou lascas mais finas que aquelas com foliações espaçadas.
Com o aumento do metamorfismo (fácies xisto verde), os filossilicatos (silicatos em folha) crescem a partir dos argilominerais em folhelhos e ardósias. A rocha se transforma em filito e a clivagem transforma-se em clivagem filítica. Os cristais de mica neoformados são paralelos entre si e definem a clivagem filítica.

Quando o argilito original atinge a fácies xisto verde alta e a fácies anfibolito baixa, os cristais de mica tornam-se maiores e mais visíveis; a foliação torna-se menos plana, envolvendo agregados quartzo-feldspáticos e minerais metamórficos mais rígidos, como granada, cianita e anfibólio. A foliação deixa, então, de ser uma clivagem e passa a ser uma xistosidade.

b) Xistosidade: definida pela reorientação de minerais pré-existentes e/ou cristalização orientada de novos minerais, especialmente os micáceos. A xistosidade é uma foliação representada pelo desenvolvimento de minerais placóides e/ou tabulares/prismáticos. 
Xisto
O aspecto mesoscópico característico da xistosidade é a definição de planos de foliação pelo alinhamento de micas como muscovita, biotita, clorita e sericita. Xistos raramente se partem segundo planos perfeitos como as ardósias. Muito pelo contrário, eles quebram formando discos e soltam muita mica, que normalmente fica grudada na mão dos geólogos. A imagem acima corresponde a um micaxisto.

A xistosidade é uma forma de organização planar adquirida em condições de temperaturas mais elevadas do que as clivagens. É característica do nível estrutural inferior. Ao contrário das clivagens, geralmente geradas em cisalhamento puro (não rotacional, coaxial e com esforços perpendiculares à área do corpo), grande parte (mas não a totalidade) das xistosidades resulta de deformações em regime de cisalhamento simples (rotacional, não coaxial e com esforços paralelos à área do corpo).

c) Estrutura ou bandamento gnáissico: estrutura planar caracterizada por cristalização orientada e segregação de minerais metamórficos individualizados a olho nu, em bandas definidas.
Gnaisse
Alguns autores utilizam o termo foliação como sinônimo de bandamento composicional dos gnaisses (alternância de bandas claras e escuras). Outros utilizam o termo superfícies - S designando qualquer estrutura plana, independente de qual seja sua origem. Incluem-se juntos nessa classificação xistosidade, clivagem ardosiana e acamamento, por exemplo. A figura abaixo mostra a foliação gnáissica em gnaisse facoidal.
Gnaisse Facoidal

A gnaissificação é a estrutura típica dos gnaisses, rochas em que os feldspatos perfazem mais de 20% do volume. Essa estrutura normalmente é caracterizada por bandamento composicional. Bandas claras, mais ricas em quartzo e feldspato alternadas com bandas mais escuras, por conter maior teor de minerais máficos. 

A figura abaixo mostra uma estrutura gnáissica com bandas claras (leucossoma) e escuras (melanossoma), em migmatito (rocha metamórfica em que a formação de novos minerais traduz uma alteração da composição química devido a material vindo do exterior da rocha original).

A característica geral das rochas foliadas é que a estrutura e a mineralogia originais foram alterados sob stress, para produzir clivagem, xistosidade ou estruturas bandadas.

Os principais parâmetros que podem caracterizar os tipos de foliação são:

Espaçamento: a maior parte das rochas foliadas possui planos com espessuras variadas entre 0,1 mm e 1,0 cm.
Trama dos micrólitons: pode ser retilínea (alívio), lenticular ou anostomosada (compressão).
Forma: a foliação pode ser lisa ou rugosa áspera e estilolíticas. As foliações rugosas são típicas de psamitos (designação genérica dos arenitos ou rochas sedimentares formadas de elementos finos mas visíveis a olho nu)  deformados e as lisas de ardósias e filitos, enquanto que as estilolíticas (desenvolvimento colunar orientado gerado em ângulo reto, ou quase reto, em relação às placas de estratificação) são bem observadas em rochas como o mármore e a metamarga.
Arranjo: descreve o padrão das superfícies da foliação que podem ser planares, sinuosos, anastomosados ou trapezoidais e também conjugados. Os três últimos descrevem padrões conjugados, com arranjos de foliações que possuem ângulos entre si (por exemplo, em xistos e filitos). Arranjos trapezoidais podem ser observados em mármores e quartzitos.

Classificação das Rochas Foliadas

As rochas foliadas são separadas de acordo com:
- natureza da foliação (intensa ou não; espessa /delgada; partição);
- tamanho dos cristais (grossos /finos);
- grau de separação entre minerais claros e escuros (bandeamento);
- grau metamórfico (baixo; médio; alto).

Ardósia - foliada (excelente partição); cristais finos
- metamorfismo de baixo grau de folhelhos e cinzas vulcânicas;
- cores escuras devido à mineralogia da rocha original - cinza, verde oliva.

Filitos - similares às ardósias, com grau de metamorfismo um pouco mais elevado;
- textura pouco mais grossa das micas em geral e cloritas maiores;
- partição boa.

Xistos - resultante de metamorfismo moderado a elevado de rochas argilosas;
- início de segregação entre minerais claros e escuros;
- xistosidade – foliação ondulada, intensa; textura grossa.

Ex.: Clorita-xistos; Granada-xistos; Mica-xistos - mais de 50% minerais placóides (Micas: moscovita, biotita, clorita); Lentes de quartzo; feldspato; Outros minerais (Granadas; Epidoto).

Gnaisses - foliação caracterizada por bandas onduladas, claras e escuras;
- (Qz + Fd) / (Biotita + Anfibólio + Piroxênio + Opacos);
- praticamente não há partição ao longo das bandas;
- resultam de condições de P e T elevados sobre granitos, arenitos, etc. (Metamorfismo de alto grau).


Este material foi extraído de:
ARTHAUD, Michel. Elementos de Geologia Estrutural. Fortaleza, 1998.
FOSSEN, Haakon. Geologia Estrutural. São Paulo : Oficina de Textos, 2012.
SALAMUNI, Eduardo. Geologia Estrutural. Aula 9: Estruturas planares e lineares.
CARNEIRO, Celso e outros. Geologia Estrutural: tipos de foliação. UNICAMP.