Assim foi o primeiro dia na Terra depois do asteroide que acabou com os dinossauros
por
Miguel Ángel Criado | El País |
Publicada em 11/09/2019 às 17h04
Um
estudo reconstitui minuto a minuto o que se passou há 66 milhões de anos,
graças a um cilindro de rocha extraído da zona do impacto. O Seguinte: reproduz o artigo publicado pelo El País. Ao
fim, também tem um vídeo
Cerca de 66 milhões de anos atrás, um milênio a mais ou a menos, um asteroide atingiu a Terra no que hoje é o Golfo do México. O choque foi de tal magnitude que a teoria dominante entre os cientistas indica que causou o desaparecimento de 75% da vida, a começar pelos dinossauros. Agora, o estudo de um cilindro de rocha extraído da cratera causada pelo impacto permitiu reconstituir minuto a minuto que se passou há tanto tempo. E foi um verdadeiro inferno.
Em 2016, a
Expedição 364 à cratera Chicxulub, no noroeste da Península de Yucatán
(México), perfurou a zona de impacto. Não cavaram na parte central, mas na
borda externa da cratera. Extraíram um cilindro rochoso de uns 1.334 metros
abaixo do fundo do mar. Segmentado em partes, seu
estudo por um grande grupo de geólogos e cientistas de outros
campos conta a história em capítulos tão precisos como os dos anéis de árvores
ou núcleos extraídos do gelo, embora milhões de anos se tenham passado.
“É uma das
vantagens com as crateras de impacto. Sua formação segue leis físicas muito bem
definidas", diz o pesquisador do Centro de Astrobiologia/CSIC e coautor do
estudo, Jens Olof Ormö. "Podemos reconstituir uma sequência de eventos
[por exemplo, ver quais sedimentos seguem um acima do outro]. Pelo tipo de
sedimento [tamanho dos clastos (fragmentos), tipo e classificação], podemos
saber se o depósito foi rápido ou lento, e aproximadamente o tempo que isso
levou", explica.
Em Chicxulub, o
impacto do asteroide liberou uma energia equivalente à de 10 bilhões de bombas
como a de Hiroshima. Volatilizou enormes quantidades de material. Estudos
anteriores estimaram que liberou na atmosfera 425 gigatoneladas de CO2 e outras
325 de sulfuretos (uma gigatonelada equivale a 1 bilhão de toneladas métricas).
Um penúltimo dado: o tsunami subsequente levou água do Caribe para os Grandes
Lagos do norte dos Estados Unidos, a cerca de 2.500 quilômetros da zona de
impacto.
O cilindro de sedimentos foi extraído de aproximadamente 1.300 metros sob o leito marinho e estudado por segmentos |
Mas o que mais
interessou aos geólogos foi a rapidez com que a maior parte da cratera foi
preenchida com os restos do choque brutal. Estima-se que em apenas 24 horas o
buraco tenha sido coberto com uma camada de cerca de 130 metros de sedimentos,
que são os que eles estudaram agora. Aí está escrita a história do primeiro dia
de vida na Terra após o impacto. Aí os geólogos estabelecem a divisão entre
duas eras, a do mesozoico e a do cenozoico atual. E é aí que quase tudo indica
que começou a extinção dos dinossauros e o surgimento dos mamíferos.
Segundo o
estudo, publicado na PNAS,
os 40-50 metros inferiores, formados por rochas fundidas e fragmentárias
(lacunas) se depositaram minutos após o impacto. Uma hora mais tarde teria
surgido outra camada de cerca de 10 metros, composta de suevite, rochas de
vidro e outros materiais fundidos. Horas depois, outros 80 metros foram
preenchidos com sedimentos mais finos. No final do dia, o refluxo da água
retirada com o impacto arrastou até ali enormes quantidades de material da
região e áreas muito remotas.
Entre os últimos
sedimentos, os pesquisadores encontraram uma grande quantidade de material
orgânico, especialmente um rastro de fungos e muito carvão vegetal. Isso deve
ter vindo dos restos dos incêndios causados pelo impacto e pela queda de
materiais incandescentes nas florestas de centenas de quilômetros ao redor.
"Com um
asteroide de 12 quilômetros atingindo Yucatán, os efeitos locais devem ter sido
catastróficos e provavelmente também em distâncias de até 1.500 quilômetros do
impacto, onde o impacto térmico pode ter provocado a queima das árvores. Em
distâncias maiores, o material ejetado também teria causado incêndios por
atrito à medida que caía na atmosfera. Mas esses efeitos devem ter sido de
curta duração e não podem explicar a extinção global de 75% da vida", diz
em um e-mail, o principal coautor do estudo, o professor do Instituto de
Geofísica da Universidade do Texas (EUA), Sean Gulick.
Essa parte da
história começou naquele dia, mas deve ter durado anos. Na rocha extraída das
bordas internas da cratera Chicxulub há uma notável ausência de materiais
sulfurosos. Não há vestígios de enxofre na área e o momento do impacto, embora
as rochas ricas em sulfeto sejam abundantes. Esses dados reforçam a teoria de
que o asteroide expeliu enormes quantidades de sulfetos na atmosfera, impedindo
a radiação solar e resfriando o planeta. As simulações indicam que a
temperatura média global caiu 20 graus e assim permaneceu durante uns 30 anos.
"Estamos
diante de evidências empíricas da conexão entre o impacto do asteroide e a
grande extinção", diz o pesquisador da UNAM (Universidade Nacional
Autônoma do México) e um dos líderes do grupo de pesquisa, Jaime Urrutia, que
está estudando a cratera de Chicxulub há várias décadas. Para ele, a grande
contribuição deste trabalho é a resolução temporal que oferece sobre a
sequência de eventos que se seguiram a um impacto ocorrido há 66 milhões de
anos e que marcou o destino do planeta.
Siga o vídeo:
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